Gênero: performance.
Data: 15/11/2019
Loca: Cachoeira do Arari, Marajó/PA.
Artistas - Performers: Denis Bezerra e Rosilene Cordeiro
Fotografias apresentadas no texto: Rosilene Cordeiro, Cristina Carvalho, Denis Bezerra.
A performance Louvação Mariana foi um trabalho artístico realizado por Denis Bezerra e Rosilene Cordeiro, no dia 15 de novembro de 2019, no município de Cachoeira do Arari, arquipélago do Marajó/PA, durante a programação do evento V Seminário Brasileiro de Poéticas Orais, promovido pelo GT de Literatura Oral da Anpoll, a nível nacional; e pelo Núcleo de Pesquisa Culturas e Memórias Amazônicas - CUMA da Universidade do Estado do Pará, a nível local.
Essa performance surgiu a partir da motivação de realizar uma intervenção artística no evento. Inicialmente, os performers não sabiam em qual cidade, em específico, realizariam a ação, porque o evento teve programação em três municípios (Soure, Salvaterra e Cachoeira do Arari). A preparação se deu na ideia de fazer; sabíamos que em algum momento faríamos um ato público e que teríamos como mote a entidade da umbanda amazônica, cabocla Dona Mariana.
A escolha desse mote se deu porque, em paralelo, os dois performers participavam da exposição Nós de Aruanda – Artistas de Terreiro, com a obra Corpo encarnado na esquadra Mariana, uma instalação composta por objetos ligados à entidade dona Mariana e por fotografias produzidas a partir da experiência religiosa e de imersão no universo cultural amazônico, através de viagens por rios e cidades do estado do Pará, na transversalidade cultural com essa entidade. Ou seja, fotografias feitas em visitas em terreiros, ou de paisagens e situações em que os artistas se sentiam motivados ou presenciados pela cabocla, ou como se fala na linguagem de terreiro, sombreados, mareados pela presença da Arara Cantadeira.
Marinhar...
Partindo desse contexto, prestes a viajar para o evento no Marajó, e inspirados em dialogar com a cultura local a partir da prática religiosa que os atravessa, Rosilene e Denis decidiram produzir uma performance em que a cabocla Mariana seria o mote. Colocaram em uma mala roupas, tecidos, perfumes, chapéu, joias, elementos que compõem o corpo da entidade quando se apresenta em rituais.
No evento, deixaram-se agir pela “intuição”, para saber onde e em que momento o ato performativo seria realizado. Escolheram, então, o dia 15 de novembro, dia nacional da umbanda, que, “coincidentemente”, esse dia do evento seria realizado na cidade de Cachoeira do Arari, com uma programação sobre o escritor Dalcídio Jurandir, e os participantes do evento teriam, também, a oportunidade de presenciar a retirada, da floresta, da árvore que se tornaria os Mastros de São Sebastião, padroeiro da cidade, nos festejos do Santo em 2020.
Dessa maneira, a performance se iniciou desde do momento em que os dois artistas se arrumaram no hotel, já inspirados pela energia daquele dia, sem imaginar o que eles encontrariam no percurso entre as cidades de Soure a Cachoeira do Arari. No trajeto entre rios, estradas, campos marajoaras, a paisagem tão presente no imaginário literário (por exemplo no romance Chove nos Campos de Cachoeira, de Dalcídio Jurandir, em que ele narra e apresenta a realidade marajoara), eles foram dialogando com as pessoas que encontravam.
Imagem 1 – Campos secos, na margem da rodovia PA 154, que liga por terra à cidade de Cachoeira do Arari, Marajó/PA.
Foto: Denis Bezerra (2019)
Esse primeiro momento foi de
surpresa porque não tínhamos ideia de como seria esse ritual de retirada dos
mastros de São Sebastião. Então ficamos, todos, esperando o evento e deixamo-nos
conduzir pela energia que se aproximava e, aos poucos, chegava: entre músicas, bebidas,
comidas (farofa com fritas do vaqueiro), muito conhaque leite de onça (uma
mistura de cachaça com leite), e os corpos ali festejando e celebrando com e
para o Santo.
Imagem 2 – cortejo do mastro de São Sebastião da floresta para o munício. Momento em que os caminhões que transportavam os três troncos e os devotos do Santo chegam na rodovia.
Foto:
Rosilene Cordeiro (2019).
Imagem 3 – Presenciando a chegada do cortejo
Foto: Rosilene
Cordeiro (2019).
Imagem 4 – Bandeira que simboliza o Santo.
Após esse momento, os participantes do evento seguiram os devotos do Santo em cortejo até o lugar onde seria deixado os três troncos de árvores retirados da floresta, em uma das fazendas marajoaras que ficam às margens da rodia PA 154. Esses troncos depois seriam transformados nos mastros (dos homens, das mulheres e das crianças) da festa de São Sebastião entre os meses dezembro de 2019 a janeiro de 2020, quando se encerra os festejos, precisamente no dia 20 de janeiro.
Seguimos pela rodovia, nos ônibus, vans até o momento em que os troncos seriam deixados em um lugar específico. Quando chegamos, os corpos, em êxtase celebraram juntos aquele momento. Nesse momento, Rosilene e Denis continuaram seus estados de performance, interagindo com todos, fazendo registros (fílmicos e fotográficos), entre música, comidas e bedidas.
A sequência fotográfica a seguir mostram a interação com a festa, com os promesseiros, com os brincantes da celebração, no momento de condução dos mastros até o local que ficariam até o dia de suas elevações, no mês de dezembro. As imagens foram feitas por Rosilene Cordeiro (2019).
O segundo momento do Ato performativo foi realizado no centro da
cidade de Cachoeira do Arari, em torno da Câmara Municipal e do Museu do
Marajó.
O momento dividiu-se em: a) construção do corpo Mariana, utilizando os elementos da visualizade da entidade Cabocla Marian; b) interação com os transeuntes, em sua maioria participantes do evento; trocas, conversas, beberagens com os interlocutores; c) consultas, cantos, passes, cortejos. A sequência fotográfica abaixo foram feitas por Cristina Carvalho.
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