Fotografia de Marivaldo Pascoal.
Dia da apresentação: 05/11/2019O Ato Performativo
“Nas Encruzilhadas da Memória: encanto Maria...” foi um trabalho artístico
produzido a partir do convite da coordenação do XI Seminário de Pesquisa em
Teatro da Escola de Teatro e Dança da UFPA, realizado em novembro de 2019, ao
Grupo de Pesquisa Perau – Memória, História e Artes Cênicas na Amazônia/CNPq.
Este ato performativo
faz parte do projeto de pesquisa Memória, História e Artes Cênicas na
Amazônia/PROPESP/PPGARTES, que abre espaço para investigações que tenham como
foco principal as artes da cena, em diálogo com a memória e a história, como
campo teórico-metodológico. Assim, aspectos da cultura amazônica, da tradição
e/ou da contemporaneidade, são elementos que nos interessam, seja no aspecto de
uma escrita historiográfica, seja como experimentação e criação da linguagem
cênica, partindo dos postulados sobre memórias, histórias, culturas.
“Nas Encruzilhadas da Memória: encanto Maria...” é um trabalho
artístico que partiu do que chamamos de performatividades da cultura, ligado à
linha de pesquisa “Memória e Performatividades” do grupo Perau, que desenvolve
trabalhos artísticos no diálogo entre os Estudos da Memória e da História com
os das Artes Cênicas, em especial os Estudos da Performance. O processo
consistiu em trabalhar a memória cultural de uma entidade da Umbanda
amazônica/brasileira: Maria Molambo.
Maria Molambo foi o mote para pensar alguns temas que me chamam atenção há um tempo, ligadas às
práticas religiosas, com relação aos “despachos” (como são chamadas as
oferendas deixadas nas encruzilhadas, cruzeiros, estradas, praias, etc.) que,
frequentemente, vemos nas encruzilhadas das ruas de Belém e região
metropolitana. Essa foi a primeira questão que me chamou atenção e, a partir disso,
Maria Molambo foi escolhida ou fomos escolhidos por ela, para tal trabalho
artístico.
Com o intuito de
explorar a história da entidade, tanto a narrativa mítica-histórica, quanto a
mítica-religiosa, mergulhei no processo de pesquisa documental (oral, visual,
escrita) sobre Molambo, buscando na minha própria memória individual, a
experiência de vida com ela, seja no terreiro em que me congrego, seja nos
terreiros por onde andamos e visitamos. Vi algumas Marias Molambos e cada uma
tem sua personalidade, sua performance, sua força. Porém, mesmo com
performatividades diversas, Ela traz traços que unem as vária Marias, que
chamamos de estruturas da narrativa, ou seja, os elementos comuns entre as
variantes: os pontos cantados, a personalidade austera, séria, a gargalhada
forte, marcante, aquela que não tem meia-palavra, diz o que precisa ser dito,
sem arrodeio.
Com relação à
narrativa mítica-histórica, as fontes escritas (encontradas em sua maioria em
blog e redes sociais) contam que ora Molambo fora uma moça rica, nascida na
nobreza europeia medieval, ora como uma moça pobre, que casara por interesses
financeiros e não por amor. Contudo, depois de casada conhece o amor, mas fora
dos laços matrimoniais. Independente das versões, a história de Maria Molambo
sempre carrega a dor, o sofrimento, a morte, as violências de uma sociedade
patriarcal, machista. Isso nos chamou atenção e buscamos dialogar com
experiências de mulheres que passam ou passaram pelas mesmas situações.
Com isso, comecei a
escutar algumas mulheres, eu contava um pouco da história de Molambo que
ativava nelas suas histórias pessoais, familiares, em que a violência contra o
ser mulher estão presentes. São as histórias de nossas mães, avós, bisavós,
irmãs, cunhadas, amigas, vizinhas, desconhecidas que têm como marca a história
de vida.
Assim, o conjunto de memórias, de oralidades, ganharam os corpos dos performes-atuantes, nos diálogos artísticos estabelecidos.
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