Teatro Providência no Largo das Mercês - Joseph Léon Righini.

Teatro Providência no Largo das Mercês - Joseph Léon Righini.
Teatro Providência no Largo das Mercês - Litografia de Joseph Léon Righini. Fonte: Centro de Memória da UFPA

domingo, 2 de abril de 2017

Biedermann e os Incendiários em Belém do Pará.



 Foto: Daicy Oliveira.

Hoje, 02 de abril de 2017, encerra-se a curtíssima temporada de Biedermann e os Incendiários, peça que teve como mote a obra homônima de Max Frisch, escritor suíço que produziu suas obras (romances e dramas), durante a segunda metade do século passado.
O meu encontro com esse autor deu-se por meio das pesquisas sobre o teatro paraense. Ouvi o nome desse autor, pela primeira vez, em 2008, quando entrevistei, durante o mestrado, a professora Maria Sylvia Nunes, diretora artística e líder, juntamente com Benedito Nunes e Angelita Silva do grupo Norte Teatro Escola do Pará (1957-1962). Esse grupo de teatro foi responsável por uma intensa produção teatral amadora, e investiu em trabalhos que dialogaram com a tradição teatral e com as vanguardas do seu momento.
Durante esses quase dez anos, estive, por meio das memórias do passado, envolvido com Max Frisch. Porém, meu encontro com sua obra durou um pouco mais. Isso ocorreu devido ao fato de, mesmo com uma importância grande e uma relação estabelecida há 55 anos, porque sua primeira montagem, realizada pelo grupo paraense citado anteriormente, só foi possível nos palcos nacionais porque os grupos amadores articulavam-se, por meio da tradução de obras estrangeiras não traduzidas para a língua portuguesa. Busquei, incessantemente, por essa obra em sebos, em livrarias, em espaços virtuais e, mesmo passado todos esses anos, e com todo reconhecimento que Max Frisch tem no cenário teatral internacional, suas obras dramáticas ainda não ganharam edições no Brasil.
Alguns grupos brasileiros já se arvoraram em montar, por exemplo, Andorra (primeira montagem nos palcos brasileiros feita pelo grupo Oficina de São Paulo, com direção de Zé Celso Martinez, na década de 1960); e Biedermann e os Incendiários (primeira montagem realizada pelo grupo paraense, para o IV Festival de Teatro dos Estudantes do Brasil, em janeiro de 1962, em Porto Alegre; e outros grupos paulistas, da década de 1990 para cá).
Contudo, em 2016, em mais uma busca virtual, consegui uma versão publicada, penso que a única feita em língua portuguesa, em 1958, por uma editora de Portugal. Finalmente consegui ler, e apresentei a proposta à equipe de trabalho envolvida na realização do espetáculo da Escola de Teatro e Dança da UFPA, que hoje faz sua última apresentação.
Precisaria de muitas páginas para relatar o processo de construção desse espetáculo, não dou conta. Isso porque são muitas mãos envolvidas nesse caldeirão. Mãos que vêm há meses tecendo, cortando, costurando, colando, quebrando, martelando, etc.... Tudo para oferecer ao público de Belém esse encontro com essa obra.
Biedermann e os Incendiários é daquelas obras difíceis de classificação. Mas é importante inseri-la em um gênero, em uma forma? Dramático, épico, cômico, farsa? O trabalho diário com ela nos ensinou que sim e não. Não importa. Ela está viva, ela está na rua, na praça, está incendiada em nossos corpos, em nossas experiências teatrais.
Max Frisch nos coloca diante de conflitos de classes. Será? Falar em conflitos de classes, hoje, no Brasil por exemplo, é um grande desafio. Mas a representação de senhor Biedermann, Babette, a criada Ana são tão atuais. E os Incendiários e Bombeiros? Estão aí.... somos revolucionários, por querer queimar os burgueses ou somos bombeiros prontos para apagar as chamas e salvar a classe que domina?
Não sei!

Denis Bezerra. 

Foto: Daicy Oliveira.

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