Foto: Denis Bezerra
No último dia 26 de
outubro de 2019, o Grupo de Pesquisa PERAU – Memória, História e Artes Cênicas
na Amazônia/UFPA/CNPq esteve em atividade no município paraense de Mocajuba,
através do projeto de extensão Memórias
Cênicas: formação, reflexão e práticas performativas/PROEX-UFPA/PERAU.
A ação foi elaborada
pela discente do curso de Licenciatura em Teatro da UFPA e bolsista do projeto
de extensão, Sidiane Nunes. A ideia surgiu a partir das inquietações e
reflexões da discente quando se integrou ao grupo de pesquisa PERAU,
atravessada pelas leituras do campo teórico-metodológico que dá base para as
ações do grupo: memória, história, artes cênicas.
Sidiane pensou em uma
ação a partir de suas experiências pessoais como mãe solo, mulher amazônica
nascida e criada no município paraense de Mocajuba, que tem como um de seus
ofícios a costura. Diante dessa realidade, como pensar e realizar uma ação
extensionista que integrasse essas experiências de vida e o teatro?
Movida por essas
questões, Sidiane organizou a oficina Teatro
e Costura, realizada no período de 21 a 26 de outubro de 2019, em sua
cidade natal, e, dessa maneira, o grupo de pesquisa PERAU se fez presente em
mais uma ação extensionista, criando diálogos entre a universidade e a
comunidade, alicerçado em um pilar tão importante para a missão de uma
instituição pública.
Como coordenador do
grupo e do projeto e espectador/participante do processo, acredito que essas
ações só nos fortalecem, como pesquisadores, artistas e, acima de tudo, como
sujeitos sociais, como pessoas que vivem o dia a dia da Amazônia. Comungamos de
muitas práticas culturais, são muitas memórias, individuais e coletivas, que
nos enlaçam e nos fazem crer que o encontro entre arte e vida, universidade e
comunidade, educação e vida são caminhos entrelaçados e indissociáveis.
Durante os cinco dias
de oficina, segundo Sidiane, as mulheres participantes experimentaram e
trocaram saberes e práticas que envolvem os processos de costura. Elas criaram
suas obras, fiaram linhas, cortaram e costuram tecidos, colocaram suas máquinas
para funcionar, algumas experimentando pela primeira vez. Somado a isso,
cerziram, bordaram e narraram suas memórias, suas histórias de vida,
protagonizando suas experiências como mulheres, mães, mocajubenses que no dia a
dia criam suas formas de ser e estar no mundo, por meio do teatro, de jogos e
situações cênicas propostas por Sidiane. Foi um momento dela, como professora de
teatro em formação, de experimentar e pôr em prática aquilo que aprende na
Licenciatura em Teatro da UFPA.
Foto: Sily Vieira
Foto: Camila Carvalho
Foto: Sily Vieira
Foto: Sily Vieira.
No último dia da ação,
as mulheres foram para a Praça Matriz da cidade, na concha acústica performar
suas experiências, mostrando à comunidade o que produziram na oficina, além de
dizer suas sensações.
Além desse momento, tivemos a participação da performatriz
Rosilene Cordeiro, com o Ato Cênico Ouça,
meu filho!, que, segundo ela, “é um ato cênico inspirado na arte da
performance narrativa que alguns dizem 'espetáculo', pela linguagem cênica,
entre elementos teatrais e jogos imaginativos, completamente presente em encontros
idealizados por mim”.
“Ouça, meu filho!”
proporcionou momentos de interação entre a artista e seus espectadores/ouvintes
de suas narrativas. Rosilene Cordeiro nos envolve, literalmente, em suas tessituras
performativas, compostas por suas histórias de vida, ela performa a oralidade presente
em nós, ativa nossas memórias, individuais e coletivas, relacionadas à vida,
àquilo que vivemos e experenciamos em nossas relações com o mundo, em nossos
ambientes sociais (família, escola, etc.), nas diversas situações em que nós
vivemos. O Ato Cênico encerrou as atividades da oficina Teatro e Costura, abençoada com uma chuva amazônica, entre as ventanias
dos deuses, raios e trovões, num toró de emoções, às margens do Rio Tocantins,
que segue seu curso para o mar, com histórias de vidas amazônicas, marcadas
pelo encantamento, pela necessidade de continuar existindo. Mulheres e homens
amazônicos que habitam, vivem, lutam, narram-se!
Belém, 28 de
outubro de 2019.
Denis Bezerra
Nenhum comentário:
Postar um comentário