Mendara Mariani em espetáculo pela Escola de Teatro da UFPA, década de 1960.
Fonte: Acervo pessoal de Yolanda Amadei.
Por Denis Bezerra[1].
Quando entrei para o “mundo
do teatro”, em 2006, ao passar no curso de Formação de Ator da ETDUFPA, (digo
isso porque sempre fiz teatro, desde criança, na escola, na igreja, mas só
acreditamos que somos atores ou artistas quando nos inserimos no estranho
circuito teatral, que no caso da capital paraense é amador, de grupos, principalmente
das regiões centrais da cidade) comecei a ouvir nomes de artistas, entre eles
os mais velhos e experientes.
Além disso, como participava
de um projeto de pesquisa[2] na UEPA,
desenvolvido pelo grupo CUMA, como bolsista tinha por obrigação ler sobre a
história do teatro local, como uma forma de preparação para as entrevistas e,
depois, para a escrita de um artigo. Começamos a levantar nomes: Nilza Maria,
Iracema Oliveira, Cleodon Goldim. Pensamos em Mendara Mariani, mas, por
questões que não recordo agora, não conseguimos ouvir a atriz. Quando soube de
sua morte, logo meio veio a ideia de escrever um texto para homenageá-la, e
procurei uma entrevista entre tantos projetos que já participei e notei que não
havia o registro. Deu-me uma tristeza, mas há disponível na internet uma
participação da artista no programa Coxia, da TV Cultura[3].
Contudo, mesmo sem o
registro da voz de Mendara Mariani, tive a oportunidade de encontrá-la pelos
espaços de apresentações teatrais de Belém, em algumas vezes. Além disso,
lembrei que durante o doutorado consegui vários registros fotográficos,
críticas e anúncios jornalísticos, que me ajudaram a escrever minha tese[4] sobre o
movimento de teatro amador e de estudante em Belém entre os anos 1940 a 60. Ao investigar
sobre a escola de teatro da UFPA, os registros da participação de Mendara foram
surgindo.
Sei que a artista merece
um estudo aprofundado, esse texto que ora escrevo é uma singela homenagem, para
que os leitores de meu blog possam conhecer um pouco sobre ela. Espero, em
breve, poder realizar um estudo digno de sua memória. Dessa maneira,
compartilho alguns registros coletados em jornais de Belém, da década de 1960.
Mendara Mariani integrou a
1ª turma do curso de Formação de Ator do antigo Serviço de Teatro da
Universidade do Pará, atual Escola de Teatro e Dança da UFPA, a primeira
instituição pública de ensino de artes cênicas na Amazônia brasileira. Fundada,
oficialmente em 06 de maio de 1963, deve seu embrião um ano antes, em 1962,
através de um curso de Iniciação Teatral, de forma experimental. O curso
funcionava no horário noturno (19h30 às 23h), na Trav. Quintino Bocaiúva, 1632
e durava 03 anos.
Em 1965, formava-se a
primeira turma da escola de teatro, Martins Pena. Fazia parte dela: Alberto
Texeira Coelho Bastos [Albertinho Bastos], Augusto Rodrigues Corrêa, Cláudio de
Souza Barradas, José Morais de Lima, José Nazareno Santana Dias, Maria de Belém
Negrão Guimarães, Maria de Lourdes Ramos Martins [Mendara Mariani], Reynuncio Napoleão de Lima, Sônia Maria de Macedo
Parenti[5].
Dentre tantos espetáculos,
festivais e cenas curtas produzidas pelo Serviço de Teatro da UFPA, entre 1962
a 1965, Mendara Mariani participou de espetáculos como: O Velho da Horta, de
Gil Vicente; Os Fuzis da Sra. Carrar, de Bertolt Brecht; Festival Shakespeare (Cenas
de Shakespeare: Otelo, Hamlet, A Megera Domada, Sonho de Uma Noite de Verão, Ricardo
III, Macbeth, O Mercador de Veneza e A Tempestade); Hécuba, de Eurípides; dentre
outros.
Abaixo, algumas imagens
que mostram a participação da atriz nos espetáculos produzidos pelo STUP.
Imagem 01 – Estreia na SAI o
grupo teatral da Universidade local.
Fonte:
Folha do Norte (1962).
Imagem 02 – Maria de
Belém Negrão e Mendara Mariani.
Fonte:
Folha do Norte (1962).
Imagem 03 - Festival Shakespeare,
promovido pelo Serviço de Teatro da Universidade do Pará (1964). Nas fotos, da
esquerda para direita: Cláudio Barradas, Mendara
Mariani, Nilza Maria, Renúncio Napoleão de Lima e Sônia Maria Parenti.
Fonte:
Folha do Norte (1964).
Após formada na Escola de Teatro, Mendara atuou na TV, na
rádio, no cinema e em diversas produções teatrais. São vários os capítulos da
longa e brilhante trajetória dessa atriz paraense, que me dedicarei em outro
momento. Encerro essa homenagem com uma imagem (abaixo) e um texto escrito por
seu colega de profissão, o ator Daniel Carvalho, para o jornal A Província do
Pará, publicado em janeiro de 1966, na coluna Mulheres do Ano, destaques de
1965. Junto com Mendara, as mulheres homenageadas foram: Nilza Maria, pela
atuação na TV e na Rádio; e Maria de Belém, como Mulher Notícia.
Fonte:
Jornal A Província do Pará.
Edwaldo,
Difícil
escrever sobre MENDARA, sabe? É uma atriz e tanto. É tudo. Conheci MENDARA no
Teatro da Paz vivendo a Mrs. Maungham da peça de Patrick Hamilton, “Luz de
Gás”. Empolgou como só uma atriz autêntica pode empolgar. Depois acompanhei de
perto sua carreira até aqui: uma sucessão de raras criações artísticas. MENDARA
– sensível – trágica – meiga – rancorosa – irônica – suave – triste – vibrante
– heroica – sublime -. Enfim, repleta desses sentimentos e vivência tão própria
das grandes intérpretes. Isto, Edwaldo, não é tudo. E nem poderia ser. Como
analisar uma grande atriz? Difícil, senão impossível. Afinal, elas existem para
que a gente as sinta e quase nunca as compreenda. De onde quer que tenha
surgido a ideia de fazê-la personalidade do ano, foi bom e justo. Obrigado por
ter me escolhido para escrever sobre MENDARA. Creia que é uma responsabilidade
e uma satisfação que poucas vezes encontramos.
Um
abraço do
Daniel
Carvalho.
Mendara Mariani, bravo,
bravíssimo!
[1] Todos os dados utilizados nesse
texto fazem parte do acervo de pesquisa de Denis Bezerra, autor desse texto. As
fontes compõem a pesquisa documental realizada durante seu doutoramento pelo
Programa de Pós-graduação em História Social da Amazônia/UFPA (2011-2016). Além
disso, faz parte do acervo documental do grupo de pesquisa que lidera: PERAU –
Memória, História e Artes Cênicas na Amazônia/UFPA/CNPq.
[2] Memórias de Belém em testemunho de
artistas (2005-2006). Coordenado pelas professoras Bel Fares e Venize Ramos, o
projeto partia do registro das memórias de Belém antiga com o recorte temporal
1962 para trás, data em que a TV foi introduzida no Pará. Esse projeto dava
continuidade a outro, desenvolvido em 2004, Memórias de Belém em testemunho de
velhos. Como resultado dos dois projetos, o CUMA publicou um livro, organizado
por Bel Fares: FARES, Josebel Akel. Memórias
da Belém de antigamente. Belém: EDUEPA, 2010.
[3] Disponível no Portal Cultura, publicado
em 22 de março de 2016: https://www.youtube.com/watch?v=k9cENXlJ2FI
[4] BEZERRA, José Denis de Oliveira. Vanguardismos e Modernidades: cenas
teatrais em Belém do Pará (1941-1968). Tese de Doutorado, História,
Universidade Federal do Pará. Belém, 2016.
[5] Fonte: Relatório do Serviço de
Teatro da Universidade Federal do Pará (1967).
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