Teatro Providência no Largo das Mercês - Joseph Léon Righini.

Teatro Providência no Largo das Mercês - Joseph Léon Righini.
Teatro Providência no Largo das Mercês - Litografia de Joseph Léon Righini. Fonte: Centro de Memória da UFPA

sábado, 29 de dezembro de 2018

Homenagem teatral II: Mendara Mariani (Maria de Lourdes Ramos Martins).



Mendara Mariani em espetáculo pela Escola de Teatro da UFPA, década de 1960.
Fonte: Acervo pessoal de Yolanda Amadei.


Por Denis Bezerra[1].

Quando entrei para o “mundo do teatro”, em 2006, ao passar no curso de Formação de Ator da ETDUFPA, (digo isso porque sempre fiz teatro, desde criança, na escola, na igreja, mas só acreditamos que somos atores ou artistas quando nos inserimos no estranho circuito teatral, que no caso da capital paraense é amador, de grupos, principalmente das regiões centrais da cidade) comecei a ouvir nomes de artistas, entre eles os mais velhos e experientes.
Além disso, como participava de um projeto de pesquisa[2] na UEPA, desenvolvido pelo grupo CUMA, como bolsista tinha por obrigação ler sobre a história do teatro local, como uma forma de preparação para as entrevistas e, depois, para a escrita de um artigo. Começamos a levantar nomes: Nilza Maria, Iracema Oliveira, Cleodon Goldim. Pensamos em Mendara Mariani, mas, por questões que não recordo agora, não conseguimos ouvir a atriz. Quando soube de sua morte, logo meio veio a ideia de escrever um texto para homenageá-la, e procurei uma entrevista entre tantos projetos que já participei e notei que não havia o registro. Deu-me uma tristeza, mas há disponível na internet uma participação da artista no programa Coxia, da TV Cultura[3].
Contudo, mesmo sem o registro da voz de Mendara Mariani, tive a oportunidade de encontrá-la pelos espaços de apresentações teatrais de Belém, em algumas vezes. Além disso, lembrei que durante o doutorado consegui vários registros fotográficos, críticas e anúncios jornalísticos, que me ajudaram a escrever minha tese[4] sobre o movimento de teatro amador e de estudante em Belém entre os anos 1940 a 60. Ao investigar sobre a escola de teatro da UFPA, os registros da participação de Mendara foram surgindo.
Sei que a artista merece um estudo aprofundado, esse texto que ora escrevo é uma singela homenagem, para que os leitores de meu blog possam conhecer um pouco sobre ela. Espero, em breve, poder realizar um estudo digno de sua memória. Dessa maneira, compartilho alguns registros coletados em jornais de Belém, da década de 1960.
Mendara Mariani integrou a 1ª turma do curso de Formação de Ator do antigo Serviço de Teatro da Universidade do Pará, atual Escola de Teatro e Dança da UFPA, a primeira instituição pública de ensino de artes cênicas na Amazônia brasileira. Fundada, oficialmente em 06 de maio de 1963, deve seu embrião um ano antes, em 1962, através de um curso de Iniciação Teatral, de forma experimental. O curso funcionava no horário noturno (19h30 às 23h), na Trav. Quintino Bocaiúva, 1632 e durava 03 anos.
Em 1965, formava-se a primeira turma da escola de teatro, Martins Pena. Fazia parte dela: Alberto Texeira Coelho Bastos [Albertinho Bastos], Augusto Rodrigues Corrêa, Cláudio de Souza Barradas, José Morais de Lima, José Nazareno Santana Dias, Maria de Belém Negrão Guimarães, Maria de Lourdes Ramos Martins [Mendara Mariani], Reynuncio Napoleão de Lima, Sônia Maria de Macedo Parenti[5].
Dentre tantos espetáculos, festivais e cenas curtas produzidas pelo Serviço de Teatro da UFPA, entre 1962 a 1965, Mendara Mariani participou de espetáculos como: O Velho da Horta, de Gil Vicente; Os Fuzis da Sra. Carrar, de Bertolt Brecht; Festival Shakespeare (Cenas de Shakespeare: Otelo, Hamlet, A Megera Domada, Sonho de Uma Noite de Verão, Ricardo III, Macbeth, O Mercador de Veneza e A Tempestade); Hécuba, de Eurípides; dentre outros.
Abaixo, algumas imagens que mostram a participação da atriz nos espetáculos produzidos pelo STUP.

Imagem 01 – Estreia na SAI o grupo teatral da Universidade local. 
Fonte: Folha do Norte (1962).


Imagem 02 – Maria de Belém Negrão e Mendara Mariani.
Fonte: Folha do Norte (1962).



Imagem 03 - Festival Shakespeare, promovido pelo Serviço de Teatro da Universidade do Pará (1964). Nas fotos, da esquerda para direita: Cláudio Barradas, Mendara Mariani, Nilza Maria, Renúncio Napoleão de Lima e Sônia Maria Parenti.

    Fonte: Folha do Norte (1964).

Após formada na Escola de Teatro, Mendara atuou na TV, na rádio, no cinema e em diversas produções teatrais. São vários os capítulos da longa e brilhante trajetória dessa atriz paraense, que me dedicarei em outro momento. Encerro essa homenagem com uma imagem (abaixo) e um texto escrito por seu colega de profissão, o ator Daniel Carvalho, para o jornal A Província do Pará, publicado em janeiro de 1966, na coluna Mulheres do Ano, destaques de 1965. Junto com Mendara, as mulheres homenageadas foram: Nilza Maria, pela atuação na TV e na Rádio; e Maria de Belém, como Mulher Notícia.


 Imagem 04 - Mendara Mariani, eleita a mulher de teatro de 1965.
Fonte: Jornal A Província do Pará.

Edwaldo,
Difícil escrever sobre MENDARA, sabe? É uma atriz e tanto. É tudo. Conheci MENDARA no Teatro da Paz vivendo a Mrs. Maungham da peça de Patrick Hamilton, “Luz de Gás”. Empolgou como só uma atriz autêntica pode empolgar. Depois acompanhei de perto sua carreira até aqui: uma sucessão de raras criações artísticas. MENDARA – sensível – trágica – meiga – rancorosa – irônica – suave – triste – vibrante – heroica – sublime -. Enfim, repleta desses sentimentos e vivência tão própria das grandes intérpretes. Isto, Edwaldo, não é tudo. E nem poderia ser. Como analisar uma grande atriz? Difícil, senão impossível. Afinal, elas existem para que a gente as sinta e quase nunca as compreenda. De onde quer que tenha surgido a ideia de fazê-la personalidade do ano, foi bom e justo. Obrigado por ter me escolhido para escrever sobre MENDARA. Creia que é uma responsabilidade e uma satisfação que poucas vezes encontramos.
Um abraço do
Daniel Carvalho.

Mendara Mariani, bravo, bravíssimo!



[1] Todos os dados utilizados nesse texto fazem parte do acervo de pesquisa de Denis Bezerra, autor desse texto. As fontes compõem a pesquisa documental realizada durante seu doutoramento pelo Programa de Pós-graduação em História Social da Amazônia/UFPA (2011-2016). Além disso, faz parte do acervo documental do grupo de pesquisa que lidera: PERAU – Memória, História e Artes Cênicas na Amazônia/UFPA/CNPq.
[2] Memórias de Belém em testemunho de artistas (2005-2006). Coordenado pelas professoras Bel Fares e Venize Ramos, o projeto partia do registro das memórias de Belém antiga com o recorte temporal 1962 para trás, data em que a TV foi introduzida no Pará. Esse projeto dava continuidade a outro, desenvolvido em 2004, Memórias de Belém em testemunho de velhos. Como resultado dos dois projetos, o CUMA publicou um livro, organizado por Bel Fares: FARES, Josebel Akel. Memórias da Belém de antigamente. Belém: EDUEPA, 2010.
[3] Disponível no Portal Cultura, publicado em 22 de março de 2016: https://www.youtube.com/watch?v=k9cENXlJ2FI
[4] BEZERRA, José Denis de Oliveira. Vanguardismos e Modernidades: cenas teatrais em Belém do Pará (1941-1968). Tese de Doutorado, História, Universidade Federal do Pará. Belém, 2016.
[5] Fonte: Relatório do Serviço de Teatro da Universidade Federal do Pará (1967).

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