Teatro Providência no Largo das Mercês - Joseph Léon Righini.

Teatro Providência no Largo das Mercês - Joseph Léon Righini.
Teatro Providência no Largo das Mercês - Litografia de Joseph Léon Righini. Fonte: Centro de Memória da UFPA

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Teatro e Costura: memórias em formação e em práticas performativas na Amazônia


Foto: Denis Bezerra

No último dia 26 de outubro de 2019, o Grupo de Pesquisa PERAU – Memória, História e Artes Cênicas na Amazônia/UFPA/CNPq esteve em atividade no município paraense de Mocajuba, através do projeto de extensão Memórias Cênicas: formação, reflexão e práticas performativas/PROEX-UFPA/PERAU.
A ação foi elaborada pela discente do curso de Licenciatura em Teatro da UFPA e bolsista do projeto de extensão, Sidiane Nunes. A ideia surgiu a partir das inquietações e reflexões da discente quando se integrou ao grupo de pesquisa PERAU, atravessada pelas leituras do campo teórico-metodológico que dá base para as ações do grupo: memória, história, artes cênicas.
Sidiane pensou em uma ação a partir de suas experiências pessoais como mãe solo, mulher amazônica nascida e criada no município paraense de Mocajuba, que tem como um de seus ofícios a costura. Diante dessa realidade, como pensar e realizar uma ação extensionista que integrasse essas experiências de vida e o teatro?
Movida por essas questões, Sidiane organizou a oficina Teatro e Costura, realizada no período de 21 a 26 de outubro de 2019, em sua cidade natal, e, dessa maneira, o grupo de pesquisa PERAU se fez presente em mais uma ação extensionista, criando diálogos entre a universidade e a comunidade, alicerçado em um pilar tão importante para a missão de uma instituição pública.
Como coordenador do grupo e do projeto e espectador/participante do processo, acredito que essas ações só nos fortalecem, como pesquisadores, artistas e, acima de tudo, como sujeitos sociais, como pessoas que vivem o dia a dia da Amazônia. Comungamos de muitas práticas culturais, são muitas memórias, individuais e coletivas, que nos enlaçam e nos fazem crer que o encontro entre arte e vida, universidade e comunidade, educação e vida são caminhos entrelaçados e indissociáveis.
Durante os cinco dias de oficina, segundo Sidiane, as mulheres participantes experimentaram e trocaram saberes e práticas que envolvem os processos de costura. Elas criaram suas obras, fiaram linhas, cortaram e costuram tecidos, colocaram suas máquinas para funcionar, algumas experimentando pela primeira vez. Somado a isso, cerziram, bordaram e narraram suas memórias, suas histórias de vida, protagonizando suas experiências como mulheres, mães, mocajubenses que no dia a dia criam suas formas de ser e estar no mundo, por meio do teatro, de jogos e situações cênicas propostas por Sidiane. Foi um momento dela, como professora de teatro em formação, de experimentar e pôr em prática aquilo que aprende na Licenciatura em Teatro da UFPA.

Foto: Sily Vieira

Foto: Camila Carvalho

Foto: Sily Vieira

Foto: Sily Vieira.

No último dia da ação, as mulheres foram para a Praça Matriz da cidade, na concha acústica performar suas experiências, mostrando à comunidade o que produziram na oficina, além de dizer suas sensações.







Além desse momento, tivemos a participação da performatriz Rosilene Cordeiro, com o Ato Cênico Ouça, meu filho!, que, segundo ela, “é um ato cênico inspirado na arte da performance narrativa que alguns dizem 'espetáculo', pela linguagem cênica, entre elementos teatrais e jogos imaginativos, completamente presente em encontros idealizados por mim”.














“Ouça, meu filho!” proporcionou momentos de interação entre a artista e seus espectadores/ouvintes de suas narrativas. Rosilene Cordeiro nos envolve, literalmente, em suas tessituras performativas, compostas por suas histórias de vida, ela performa a oralidade presente em nós, ativa nossas memórias, individuais e coletivas, relacionadas à vida, àquilo que vivemos e experenciamos em nossas relações com o mundo, em nossos ambientes sociais (família, escola, etc.), nas diversas situações em que nós vivemos. O Ato Cênico encerrou as atividades da oficina Teatro e Costura, abençoada com uma chuva amazônica, entre as ventanias dos deuses, raios e trovões, num toró de emoções, às margens do Rio Tocantins, que segue seu curso para o mar, com histórias de vidas amazônicas, marcadas pelo encantamento, pela necessidade de continuar existindo. Mulheres e homens amazônicos que habitam, vivem, lutam, narram-se!



Belém, 28 de outubro de 2019.
Denis Bezerra

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Carlos Pereira de Miranda (1936-1997)


Carlos Miranda
Fonte: Foto Carlos. Acervo CEDOC/Funarte.

O dia 24 de janeiro é uma data para ser lembrada e comemorada nas artes cênicas nacionais, porque é o dia de nascimento de um dos homens mais importantes do teatro brasileiro do século: Carlos Miranda.
Às 6h00 do dia 24 de janeiro de 1936, nascia em Belém do Pará, na Rua 28 de Setembro, Carlos Pereira de Miranda, filho de Antonio Pereira de Miranda e Maria Emília Miranda, portugueses que vieram construir suas vidas na capital paraense.
Carlos Miranda fez seu curso ginasial entre 1947 a 1950, e o científico de 1951 a 1953 no Colégio Salesiano do Carmo. Em 1954, entra na Faculdade de Direito, curso que finalizará em 1959. É nesse ambiente universitário que ele iniciou a sua relação com a arte teatral.
Têm-se notícias de que Carlos Miranda iniciou no teatro nas ações do movimento amador, capitaneado por Margarida Schivazappa e Angelita Silva.  Em 1957 ele participou do I Festival de Amadores Nacionais, organizado por Dulcina de Moraes, no Rio de Janeiro. Integrando o grupo Os Novos, juntamente com Cláudio Barradas, Lóris Pereira, Assis Filho, e outros, viajaram a capital do país para apresentar a peça inédita na época, No Poço do Falcão, de W.B. Yeats, com tradução de Angelita Silva e direção de Margarida Schivazappa. Nessa montagem, Carlos Miranda representou o personagem Jovem. A apresentação ocorreu no dia 23 de janeiro de 1957 no Teatro Dulcina.

Na foto grupo Os Novos, após apresentação do espetáculo No Poço do Falcão. Na parte inferior, da direita para esquerda: Carlos Miranda, Cláudio Barradas no centro caracterizado como personagem Velho. Na parte inferior, da direita para esquerda: Margarida Schivazappa, Paschoal Carlos Magno.

   Fonte: Acervo Labanca - CEDOC-Funarte.



Quando o grupo retornou à Belém, seus integrantes não deram continuidade e se desarticularam. Porém, logo em seguida, surgiu o Norte Teatro Escola do Pará (1957-1962), com a direção de Maria Sylvia e Benedito Nunes. Carlos Miranda permaneceu ligado ao movimento amador de teatro através desse novo grupo. Nele, veio a sua grande projeção nacional, ao participar de montagens históricas no Brasil, como a primeira de Morte e Vida Severina, em 1958, no I Festival de Teatro do Estudante do Brasil, sendo o primeiro ator brasileiro a interpretar o personagem Severino, que lhe deu o prêmio de melhor ator nacional nesse evento. Esse fato se repetiria no ano seguinte, no II Festival de Teatro do Estudante do Brasil, realizado na cidade Santos/SP, ao interpretar Édipo, na tragédia sofocliana Édipo Rei.
Em 1959, Carlos Miranda termina o curso de Direito na Universidade Federal do Pará, e resolve mudar-se para o Rio de Janeiro, encerrando sua breve carreira junto aos grupos paraense, porém, iniciando uma longa trajetória de militância pelo teatro nacional. Ao chegar à capital federal em 1960, logo se insere ao movimento cultural e teatral das capitais carioca e paulista.
Carlos Miranda participou, na década de 1960, do CPC, do Teatro de Arena, Grupo Decisão, Companhia de Paulo Autran, entre outros, até 1974, quando, juntamente com Orlando Miranda, assumiu o Serviço de Teatro de Nacional/SNT. Nesse momento, o ator, produtor começa a sair de cena para a entrada nos palcos de sua grande missão de vida e arte: a gestão pública ligada à área cultural.
O SNT, criado em 1937, no governo de Getúlio Vargas funcionou até 1981, quando se tornou o INACEN – Instituto Nacional de Artes Cênicas, que em 1987 passou a FUNDACEN – Fundação Nacional de Artes Cênicas, desarticulada em 1990, quando Collor assumiu a Presidência e extinguiu o Ministério da Cultura, transformando-o em Secretaria da Cultura, ligada ao Gabinete da Presidência da República. Com a “morte” do MINC,  consequentemente, as fundações (Fundacen, Funarte, entre outros) foram extintas. Mas esse é um capítulo longo....
O que se quer, nesse texto, é prestar uma homenagem a um dos mais importantes homens do teatro brasileiro do século XX. Afirmar a sua importância para a cultura nacional, como um sujeito que lutou para a promoção, produção, circulação, preservação das artes cênicas brasileiras.
São muitos capítulos a serem escritos sobre a história de Carlos Miranda. Mas não poderia deixar, nesse dia em que completaria 83 anos, de falar, em linhas gerais, sobre ele. Um gestor público que tanto lutou pelas memórias e pela produção e circulação das artes cênicas brasileiras. Em 1997, ele saiu de cena, foi habitar outro plano, provavelmente iluminado pelo azul que brilhava em seus olhos.
Carlos Miranda, Bravo!