Foto: Daicy Oliveira.
Hoje, 02 de abril de 2017, encerra-se a curtíssima temporada
de Biedermann e os Incendiários, peça que teve como mote a obra homônima de Max
Frisch, escritor suíço que produziu suas obras (romances e dramas), durante a
segunda metade do século passado.
O meu encontro com esse autor deu-se por meio das pesquisas
sobre o teatro paraense. Ouvi o nome desse autor, pela primeira vez, em 2008,
quando entrevistei, durante o mestrado, a professora Maria Sylvia Nunes,
diretora artística e líder, juntamente com Benedito Nunes e Angelita Silva do
grupo Norte Teatro Escola do Pará (1957-1962). Esse grupo de teatro foi
responsável por uma intensa produção teatral amadora, e investiu em trabalhos
que dialogaram com a tradição teatral e com as vanguardas do seu momento.
Durante esses quase dez anos, estive, por meio das memórias
do passado, envolvido com Max Frisch. Porém, meu encontro com sua obra durou um
pouco mais. Isso ocorreu devido ao fato de, mesmo com uma importância grande e
uma relação estabelecida há 55 anos, porque sua primeira montagem, realizada pelo
grupo paraense citado anteriormente, só foi possível nos palcos nacionais
porque os grupos amadores articulavam-se, por meio da tradução de obras
estrangeiras não traduzidas para a língua portuguesa. Busquei, incessantemente,
por essa obra em sebos, em livrarias, em espaços virtuais e, mesmo passado
todos esses anos, e com todo reconhecimento que Max Frisch tem no cenário
teatral internacional, suas obras dramáticas ainda não ganharam edições no
Brasil.
Alguns grupos brasileiros já se arvoraram em montar, por
exemplo, Andorra (primeira montagem nos palcos brasileiros feita pelo grupo
Oficina de São Paulo, com direção de Zé Celso Martinez, na década de 1960); e
Biedermann e os Incendiários (primeira montagem realizada pelo grupo paraense,
para o IV Festival de Teatro dos Estudantes do Brasil, em janeiro de 1962, em
Porto Alegre; e outros grupos paulistas, da década de 1990 para cá).
Contudo, em 2016, em mais uma busca virtual, consegui uma
versão publicada, penso que a única feita em língua portuguesa, em 1958, por
uma editora de Portugal. Finalmente consegui ler, e apresentei a proposta à
equipe de trabalho envolvida na realização do espetáculo da Escola de Teatro e
Dança da UFPA, que hoje faz sua última apresentação.
Precisaria de muitas páginas para relatar o processo de
construção desse espetáculo, não dou conta. Isso porque são muitas mãos
envolvidas nesse caldeirão. Mãos que vêm há meses tecendo, cortando,
costurando, colando, quebrando, martelando, etc.... Tudo para oferecer ao
público de Belém esse encontro com essa obra.
Biedermann e os Incendiários é daquelas obras difíceis de
classificação. Mas é importante inseri-la em um gênero, em uma forma?
Dramático, épico, cômico, farsa? O trabalho diário com ela nos ensinou que sim
e não. Não importa. Ela está viva, ela está na rua, na praça, está incendiada
em nossos corpos, em nossas experiências teatrais.
Max Frisch nos coloca diante de conflitos de classes. Será? Falar
em conflitos de classes, hoje, no Brasil por exemplo, é um grande desafio. Mas a
representação de senhor Biedermann, Babette, a criada Ana são tão atuais. E os
Incendiários e Bombeiros? Estão aí.... somos revolucionários, por querer
queimar os burgueses ou somos bombeiros prontos para apagar as chamas e salvar
a classe que domina?
Não sei!
Denis Bezerra.
Foto: Daicy Oliveira.