Em 1968, realizou-se, em Manizales,
na Colômbia, o Primeiro Festival de Teatro Universitário Latino-americano. Com ilustres
no público, como o poeta Pablo Neruda, e Jack Lang, Diretor do Festival Mundial
de Teatro de Nancy, três grupos brasileiros participaram: um de Santa Maria,
Rio Grande do Sul; Grupo paulistano Arena, com Arena Conta Zumbi; e o grupo da
Escola de Teatro da Universidade Federal do Pará.
O grupo paraense levou para
o festival o espetáculo A Pena e a Lei,
de Ariano Suassuna, com direção de Cláudio MacDowell, e diretor da Escola Marbo
Giannaccini. No elenco, contou com a participação de Walter Bandeira e Cláudio
Barradas, entre outros.
Abaixo, transcrevo (livre
tradução do espanhol para o português) uma reportagem[1]
que saiu no Jornal La Patria, de Menizales, em 09 de outubro de 1968, durante o
Festival.
“A
Pena e a Lei”, a obra com a qual o grupo de teatro da Universidade de Belém do
Para, Brasil, participa no Festival Latino-americano, ocupará hoje o cenário do
Teatro Los Fundadores.
Em
uma entrevista feita com Marbo Giannaccini, Diretor da Escola de Teatro da
Universidade Federal do Pará, quem preside a delegação no festival, obtivemos
ampla informação sobre antecedentes e trajetória da obra:
“A
Pena e a Lei” – diz-nos Giannaccini – se baseia na história e personagens do
teatro popular de bonecos da região nordeste do Brasil, e pertence a um período
do desenvolvimento do teatro carioca. Nossa preocupação em mostrar esta obra,
escrita por Ariano Suassuna, foi mostrar a fase atual do teatro, a fase de
agressividade, com o fim de fazer participar ao público da ação. Ela está
dividida em três partes: na primeira, os atores se comportam como bonecos; na
segunda atuam como seres humanos, e na terceira se cumpre uma autocrítica do
texto, que fica destruído. O objetivo do autor é manter a esperança mística
através de histórias ingênuas, e nosso objetivo é mostrar essas histórias e apresentar
a realidade.
O
elenco está composto por nove homens e uma mulher.
Diretor
do grupo é Claudio MacDowell.
Concepções sobre o Festival.
Giannaccini
nos recene na sala de ensaios do Teatro Los Fundadores, enquanto o grupo da
Universidade Federal do Pará trabalha na preparação.
-
Que concepção tens do Festival?
-
Em primeiro lugar, sentimos uma grande satisfação por ter sido escolhidos para
representar nosso teatro neste Festival, sobretudo quando se apresentam grupos
altamente qualificados, como os do Peru, Colômbia, Argentina, e os demais. Desse
jeito nos sentimos muito honrados pelo alto nível que o Festival tem e por seu
corpo de Jurados. Quanto a sua organização, me parece excelente, não obstante a
falta de experiência que se tem sobre este tipo de evento.
Elogio de Manizales
Mas
adiante, o destacado Diretor de teatro brasileiro se referiu assim a nossa
cidade:
-
Manizales me surpreendeu bastante por seu alto nível cultural e por seu povo
acolhedor e hospitaleiro. Por seu belo caráter, torna-se uma cidade sui
generis, interior e exteriormente.
Estou
seguro – afirmou Giannaccini – que levaremos do Festival uma experiência
importante para o Brasil, pelo intercâmbio com os demais grupos latino-americanos.
Para nós, especialmente, por razão de língua e tradição, este contato é mais frutífero
e valioso, não só pelo conhecimento que vamos adquirir senão pelo armazenamento
de informações que deste intercâmbio obteremos.
A Universidade Federal do
Pará
A
Universidade Federal do Pará, cuja é representada por esse grupo, é uma das
mais importantes do Brasil. Conta com 4.000 estudantes de Medicina, Engenharia,
Arquitetura, Odontologia, Farmácia, Química, Filosofia, Direito, Economia,
Assistência Social e outras unidades como Centro de Francês, Centro de
Atividades Musicais, Núcleos de Ciências, de Física e Matemáticas, de Letras,
Serviço de Teatro, Centro de Estudos de Cinematográficos. Conta com uma grande
biblioteca Central e seus próprios trabalhos gráficos.
No
Serviço de Teatro funcionam curso de cenografia, direção teatral, cursos de
dança, cenotécnica, etc.
Na reportagem descrita acima,
além de percebermos a apresentação das impressões de Marbo Giannaccini, diretor
da Escola de Teatro da UFPA na época, sobre o Festival, sua importância, seus
significados, ele dá um panorama do ensino superior no Pará, na década de 1960.
Um importante registro histórico sobre a produção cultural e a educação em
nosso estado.
Para lembrar, o Serviço de
Teatro da UFPA, composto pela Escola de Teatro, Cineclube, e alguns cursos de experimentação
teatral (direção, cenografia, dança) e o Curso de Formação de Ator, foi fundado
em 1962, com o curso experimental de teatro e no ano seguinte, em 1963, oficialmente
instalado o referido setor da universidade.
No seu início, tinha como
corpo docente: Bendito Nunes (diretor do STUP e professor de Estética e
Psicologia); Maria Sylvia Nunes (Diretora da Escola e depois professora de
História do Espetáculo); Francisco Paulo Mendes (História e Teoria do Teatro);
Amir Haddad (interpretação); Carlos Eugênio Marcondes de Moura (dicção) e
Yolanda Amadei (expressão corporal). Ao decorrer dos anos esse quadro foi
mudando, vindo outros profissionais de fora do estado e ex-alunos tornando-se
professores, como Walter Bandeira, que assumiu a cadeira de Dicção e Cláudio
Barradas e a de interpretação.
Várias questões serão
apresentadas em minha tese de doutoramento, que aborda a produção teatral no
Pará (1941-1968), a partir da análise das ações de grupos como o Teatro do
Estudante do Pará (1941-1951); o Norte Teatro Escola do Pará (1957-1962); a
Escola de Teatro da UFPA (1962-1968); e a produção teatral no início da
ditadura militar (1962-1968). A pesquisa está em fase de “conclusão”, prevista
para ser defendida agora no segundo semestre de 2015, e tem como título Vanguardismos e modernidades: o teatro no
Pará (1941-1968).
Além de refletir sobre a
referida produção teatral, procurar debater as concepções e ações de
intelectuais e artistas paraenses em prol de transformações na cena local.
Dessa maneira, compartilho
um pouco dessas informações e em breve socializarei mais questões sobre o
teatro paraense.
[1] A fonte de jornal utilizada aqui faz
parte do Arquivo João Labanca, disponível do CEDOC da FUNARTE, na cidade do Rio
de Janeiro.
Na imagem, destaca-se o ator Walter Bandeira.
Na foto os Jurados dos Festival: Atahualpa del
Ciopo, Pablo Neruda e sua esposa Matilde Urru.